Há pouco mais de um mês fui convidada para falar da Benfeitoria no Sustainable Brands Rio, um evento que reúne centenas de empresas interessadas em tornar-se mais sustentáveis, de forma inovadora.
O tema do evento era “HOW NOW” (como fazer isso agora!) e minha palestra precisava ser sobre como as marcas poderiam se conectar com as necessidades da sociedade.
Como podem ver abaixo, em vez de mergulhar em um ou dois cases da Benfeitoria, optei por falar sobre o que está por de trás de tudo que fazemos – e como esse pensamento poderia ajudar as empresas ali presentes a se tornarem mais sustentáveis, no curto e no longo prazo.
As demais palestras do evento também estão disponíveis online gratuitamente para quem quiser assistir, mas queria aproveitar esse espaço para aprofundar (o tal do drillability ao qual me refiro na palestra) sobre a importância de trazermos grandes empresas e instituições tradicionais (inclusive governamentais) para dentro dessa “nova economia” que queremos fomentar.
1) TEMPO E ESCALA: não podemos nos dar ao luxo de esperar uma revolução apenas de baixo para cima. Ela está acontecendo, é poderosa e linda – a gente sabe, vive e fomenta muitas dessas manifestações diariamente -, mas como demonstra brilhantemente Jason Clay, vice-presidente da WWF, em sua palestra no TED “Como grandes marcas podem ajudar a salvar a biodiversidade”, usar o poder de grandes instituições a favor dessas transformações positivas que todos queremos (pelo menos todos que lêem esse blog, rs) é fundamental para trazer velocidade e escala para essa mudança.
2) KNOW-HOW: grandes empresas não chegaram onde chegaram por acaso. Elas desenvolveram um nível de profissionalismo incrível, em toda cadeira produtiva. Eu sei que a lógica predominante nesses organismos ainda é a de escassez (e é aí que acho que temos que trabalhar para mudar!). Mas sei também que uma mentalidade de abundância sem metodologia, muitas vezes gera desperdício (e desgate emocional) num nível ainda mais intenso do que cria abundância. Então acredito profundamente em parcerias que tragam mais profissionalismo para modelos conscientes e consciência para modelos “tradicionais”.
Projetos que unem essas duas inteligências, além de gerar impacto pontual ao qual se propõem, acabam inspirando outras iniciativas com o mesmo modelo, como o Matchfunding Natura Cidades, que em breve será replicado para outros temas com outros agentes de fomento (entre eles, o próprio Sustainable Brands, como falado na palestra).
3) COERÊNCIA: se estamos lutando por uma sociedade mais humana e colaborativa, não podemos replicar a lógica excludente, maniqueísta e às vezes arrogante de achar que empresas e instituições tradicionais não podem ou não merecem se associar ao mundo colaborativo. Como diz Charles Eisenstein, nesse vídeo sobre seu documentário Occupy Love, “não é sobre os 99% contra 1%” – frase que inspirou minha palestra no TEDx, em 2012, por sinal. No fundo, empresas são feitas de pessoas. E esses profissionais são, na maioria das vezes, pessoas incríveis (e extremamente competentes!), que também estão insatisfeitas com o mundo e querem fazer algo para mudá-lo.
4) FAZ SENTIDO: com o avanço exponencial da consciência coletiva de que novos modelos de vida em sociedade são necessários, urgentes (e possíveis!), colocar o propósito no coração do negócio (core business) – e não de um projeto pontual e/ou à parte, como os departamentos de responsabilidade social, que muitas vezes legitimam a irresponsabilidade dos demais –, passa a ser um bom negócio, não “apenas” um negócio do bem.
Isso requer uma abordagem profunda (drillability) e disruptiva às novas demandas do mundo e pode ser um caminho legítimo, inteligente e sustentável para grandes empresas manterem sua relevância cultural no longo prazo – tanto entre público externo, como interno, já que o propósito é um dos três pilares da motivação no trabalho.
Penso que marcas como Coca-Cola e Itaú, que se tornaram ícones do modelo vigente de capitalismo (com seus méritos e desméritos), têm a oportunidade (e responsabilidade!) de liderar um movimento robusto entre instituições de grande porte para a construção coletiva de um outro modelo: mais justo, sustentável, desejável – e viável.
Pode parecer utopia nas minhas palavras, mas tenho acompanhado de perto evoluções significativas desse pensamento dentro da própria Coca-Cola (onde trabalhei por 8 anos) e de várias outras empresas nacionais e internacionais. Em um artigo recente que escreveu para a Folha, Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola no Brasil, afirmou: “não é suficiente financiar boas iniciativas econômicas ou sociais, que somam na periferia, mas não no DNA da empresa”. É disso que estou falando. Precisamos ir no DNA. E reconhecer isso é o primeiro passo.
É claro que colocar o propósito verdadeiramente no centro do negócio não é um trabalho fácil nem rápido para uma empresa tradicional. Esse movimento requer intenção, atenção, (colabor)ação – e ousadia. Requer calma e, ao mesmo tempo, urgência. Requer CUIDADO AO AGIR. E é assim que, aos poucos, estamos cocriando esse caminho com vários outros empreendedores e intraempreendedores sociais…
Faz sentido para você?