No dia da mulher, eu resolvi invadir esse espaço da Benfeitoria e falar sobre o meu ser mulher. O meu ser, em primeira pessoa, mas com objetivo de compartilhar minhas lutas, minhas dores, meu feitos feministas. Nesse lugar, eu quero tentar encontrar, na minha particularidade de ser mulher, um movimento coletivo.
Eu sou Larissa, nascida em Salvador. Há 04 anos trabalho na Benfeitoria e, coincidentemente ou não, me chamo de feminista.
Ao longo da adolescência, aprendi um conceito muito importante para a minha família: que existiam as mulheres para casar e existiam “as outras”, e que eu precisava ser essa mulher que sabe fazer tarefas domésticas, que se veste recatada e se preserva. E, dentro desse conceito de mulher, eu nunca me encaixei.
Ainda no meio da faculdade, na tentativa de me descobrir, saí do nordeste e me mudei para o Rio de Janeiro e, por sorte e privilégio, encontrei a Benfeitoria. E foi aí que eu comecei a dar os primeiros passos para me entender mulher.
Trabalhar em uma plataforma que viabiliza diversos projetos me possibilitou conhecer mulheres que empreendem, que fazem partes de coletivos feministas, que fazem pequenos projetos para gerar reflexão, que fazem grandes projetos para impactar um montão de gente. Mulheres que fazem de tudo!
Nem todas sabem, mas eu me aprendi com cada uma delas! Eu me inspirei com a Élida, que empreendeu o afrôbox, com o alcance e discurso do com o coletivo Não é Não, com as conquistas da Daiene… Eu me inspirei com as mulheres da Think Olga e da ONU Mulheres, que ajudaram a impulsionar uma série de projetos transformadores no Canal Mulheres de Impacto. Eu me inspirei com as mulheres da minha equipe e, agora, eu estou aprendendo, refletindo sobre o lugar na sociedade e me inspirando com o Canal Negras Potências. E, no meio de tanta mulher incrível, eu me inspirei para fazer o meu próprio projeto, o Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua.
Eu me percebi mulher, uma verdadeira mulher, quando entendi o feminismo! Eu aprendi que a definição de mulher na qual eu não me encaixava vem de uma construção social que continua se reproduzindo e oprimindo tantas de nós. Eu entendi que os nossos direitos precisam ser iguais, que a minha liberdade é igual. Eu me vi mulher, entendi e parei de aceitar julgamentos e opressões sociais. Eu me vi mulher quando o feminismo me salvou e eu me senti livre.
No ser mulher, também existe a relação social com o outro, com o ser homem. E, na minha crença desse ser mulher, acredito que os homens fazem parte dessa mudança, que o dialógo se faz necessário para que haja uma real reflexão e transformação. Uma reflexão que respeite o meu ser, a minha liberdade.
A gente vai aprendendo com a vida, a gente vai entender o porquê determinados termos são machistas, o motivo de determinados ditados e palavras serem ofensivos. Eu sou do tipo que se importa com as palavras, que aponta o dedo e diz para qualquer um “essa expressão é totalmente machista”, porque acredito muito que questionar termos é também questionar a origem e a estrutura social. Poderia listar aqui vários pontos que me fazem acreditar na equipe da Benfeitoria, mas esse daqui é daqueles corriqueiros e que dá um orgulho danado: ver todos os homens da minha empresa tentando entender o nosso ponto, refletindo sobre nossos questionamentos e evoluindo.
É estatístico que as mulheres ocupam menos os espaços de poder dentro das empresas, mas aqui – como mulher feminista – sinto orgulho de dizer que esses espaços são igualitariamente compartilhados e as pessoas estão sempre abertas a discutir, escutar, refletir e evoluir.
No meio de tudo, ser mulher é ser forte, é ser guerreira. Ser mulher é lutar diariamente. Lutar contra o assédio nas ruas, lutar pelo direito do seu próprio corpo, lutar pelo seu lugar no mercado de trabalho, lutar dentro de casa sobre a divisão de tarefas. Ser mulher é manter a sua força e mostrar que ser mulher é ser livre, é ser dona de si.
Como mulher, venho existindo e resistindo. E acredito que esse movimento é, sim, coletivo! Nós vamos continuar a nossa luta, estaremos presentes e transformando a nossa sociedade em um lugar igualitário. E espero, como mulher, poder ajudar tantas outras mulheres com sonhos e projetos.
E ah! Vale sempre lembrar: o futuro é feminista.