Durante todo o mês de agosto, participamos de uma série de oficinas no Complexo do Alemão com 60 projetos sociais que atuam na comunidade. Foi um intenso trabalho de capacitação dividido em alguns temas: planejamento, recursos, financiamento e rede.
O convite veio da Entrenós e da Carioteca, empresas parceiras, e aceitamos o desafio de criar, juntos, uma série de encontros focados no desenvolvimento dos projetos locais. Ao final, oito projetos seriam escolhidos para participar de uma campanha de financiamento coletivo na Benfeitoria.
Foi uma experiência engrandecedora. Ensinar e aprender, conhecer projetos, descobrir talentos, criar laços e fomentar sonhos. Foram muitos aprendizados, mas alguns se destacam:
A comunicação como ponte
Ficou muito claro durante todo o trabalho que os maiores problemas percebidos pelos projetos eram gerados por falhas de comunicação. Muitos dos desafios de um eram desafios de outro também, muitas das barreiras que um enfrentava não eram percebidas pelos outros.
Em um determinado momento, fizemos um exercício onde todos precisavam resolver um desafio juntos, mas de olhos fechados. Poderiam se comunicar apenas falando. Depois, conversando sobre a atividade, um participante disse: “isso foi igual ao trabalho dos projetos sociais do Alemão. Todos querem o alcançar o mesmo objetivo, mas ninguém está se vendo”.
A linguagem como barreira
Refletir sobre o desafio da comunicação também deixou claro outro desafio: o da linguagem. Muitas vezes estamos nos acostumando a usar termos, referências e mensagens que já são óbvias para nós, mas não para os outros. No meio da economia colaborativa, isso é muito comum. Conseguimos nos comunicar entre nós, mas nem sempre passamos uma mensagem clara para quem não está acostumado com essas narrativas.
A linguagem não pode e não deve ser barreira. Mas para que isso ocorra, devemos praticar um exercício constante de empatia, de se colocar no lugar do outro, para não nos perdermos no nosso próprio mundo, na nossa própria forma de comunicação.
Títulos e reconhecimento
Empreendedorismo social, inovação disruptiva, novos modelos, economia colaborativa. A favela é, na verdade, berço pulsante de tudo isso, mas sem os títulos pomposos e o reconhecimento acadêmico. Nada de definições complexas, de referências estrageiras, de citações a grandes teorias econômicas contemporâneas, mas muito trabalho criativo, inovador e disruptivo nasce e floresce naquele espaço.
O poder da rede, tão explorado por startups bacanas e investidores de impacto, é quase óbvio dentro da favela. Os recursos muitas vezes são escassos, então o valor dos projetos está na rede de pessoas, conhecimentos e contatos ao seu redor.
Propósito de vida
Ninguém está ali desalinhado com o que realmente acredita. Só para citar um exemplo que aconteceu em um exercício: pedimos para que cada um fizesse um orçamento do seu projeto imaginando uma verba de R$15.000 a ser investida.
Muitas pessoas acabaram precisando de ajustes neste orçamento e, quando olhamos com mais cuidado e aprofundamos a discussão sobre o assunto, a primeira coisa que todos cortavam era a própria remuneração.
Ninguém está ali pelo dinheiro, ninguém está ali pelo ganho individual. E quando isso é genuíno, coisas incríveis acontecem.
O resultado deste trabalho foi uma linda campanha de financiamento coletivo que une oito projetos de moradores do Alemão para gerar impacto no próprio território. Arte, educação, esporte, saúde, mídias, música, dança e empreendedorismo juntos em uma só campanha, com um só objetivo: mobilizar as pessoas em torno da transformação do Complexo.
Esta campanha tem uma característica especial… o Matchfunding! Desta vez, quem resolveu se unir a esta inovação foi a Fundação Via Varejo e para cada real arrecadado, ela colocará mais um! Com isso, o investimento das pessoas é dobrado! E o impacto dos projetos também!
Foram diversos aprendizados durante esta grande jornada, mas ela está só começando. Os sonhos são grandes, os desafios são enormes. Mas temos certezas que a união destes projetos é um primeiro passo para uma comunidade mais próspera e sustentável. E queremos fazer parte disso.
Quer fazer a diferença no Complexo do Alemão? Contribua!