Essa tal de wikinomia

Este texto é uma adaptação do artigo sobre wikinomia que a Tati Leite, fundadora da Benfeitoria, escreveu para o Projeto Draft. ***** O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê; é preciso transver o mundo. Manoel de Barros. ***** Começar com poesia um texto sobre economia… Não é só uma homenagem ao grande poeta, que nos deixou recentemente. É simbólico, como muitas das mudanças que estão acontecendo nessa nova economia que está transvendo o mundo: wikinomia. Para entender a abrangência deste conceito, vale lembrar da origem da palavra ECONOMIA. Normalmente, pensamos em finanças e negócios quando ouvimos esse termo, mas a verdade é que “economia” é uma junção das palavras gregas que significam “casa” e “gestão”. Ou seja: uma nova economia é uma nova forma, modelo ou paradigma a partir do qual gerenciamos a nossa casa, o planeta e seus recursos — sejam eles financeiros, humanos, culturais, ambientais… Então, quando falamos de Wikinomia, nos referimos a mudanças que vão além de novas formas de produção e consumo ou novas ferramentas tecnológicas. Estamos falando (ou melhor, vivendo) um novo paradigma. Uma verdadeira revolução na forma com que as pessoas se relacionam: consigo, com os outros, com o meio ambiente e com as coisas. Nos negócios, nas ruas e em casa. COMO SURGIU? Essa revolução, assim como a maioria das revoluções, ganha força a partir da consciência coletiva, que emerge após uma grande crise, a respeito da importância e da urgência de novos modelos. E a crise principal aqui não é financeira, social ou ambiental. É a crise por trás das crises: uma crise de valores. Nos damos conta agora que fomos criados para competir — e não para conviver. Um exemplo quase bobo, mas emblemático disso são os jogos de tabuleiro mais vendidos no mundo: WAR é sobre guerra e Banco Imobiliário é sobre falir os adversários. Sim, não é sobre ficar muito rico. É sobre falir os outros. Está na regras: Mas a nossa sorte foi que, neste caso, o despertar aconteceu em paralelo a uma evolução sem precedentes no barateamento e expansão do acesso à tecnologia, que derrubaram os custos (não só financeiros) de colaboração no mundo todo e permitiram que pessoas com valores e insatisfações em comum se unam para propor e adotar novos modelos, de muitos para muitos. Modelos com fins positivos e, muitas vezes, meios lucrativos. Modelos que expandem os limites do que entendíamos ser possível: wikis, produtos compartilhados, financiamento coletivo, cultura livre, negócios sociais, inovação aberta, moedas alternativas, coworking, couchsurfing… Nesse contexto, “ter” passa (ou volta?) a ser menos importante do que ser ou acessar, e “controlar” fica menos interessante do que compartilhar Reconhecemos as ineficiências e restrições do sistema. Aprendemos que o mundo não é só feito de recursos escassos, mas também de recursos abundantes, que não se esgotam (ou até se multiplicam) com o uso, como a criatividade e as redes. Nesse contexto, passamos a ter uma economia que trabalha para a vida — e não uma vida que trabalha para a economia. WIKINOMIA VS. ECONOMIA COLABORATIVA Não é fácil colocar tudo isso em caixinhas. Nem sempre há consensos sobre como usar este novo vocabulário. Você pode questionar a opção por usar o termo “Wikinomia”, e não “Economia Colaborativa”, que é tão mais fácil e conhecido. Usamos “Wikinomia” no vídeo da Benfeitoria, na palestra do TEDx da Tati e no Reboot, o Festival de Wikinomia, essencialmente, por dois motivos: 1) Começa com Wiki. Ou seja: assim como nossa amada Wikipedia, é colaborativo e pode ser evoluído por qualquer um. E é isso que fazemos. O termo foi cunhado por Don Tapscott (veja aqui o 1˚ TED dele sobre o assunto) e hackeado por nós, o que significa que nossa descrição de Wikinomia hoje é um pouco diferente diferente da original – e que, assim como a dele, evolui constantemente. 2) Vai além da Economia Colaborativa. Sim: a colaboração também é um valor central para a Wikinomia — assim como a criatividade, já que para romper com dinâmicas antigas e inventar novas, precisamos sair da caixa, desafiar convenções e muitos dos pilotos automáticos. Mas o valor principal, aquilo que pode ser o pulo do gato para termos uma sociedade radicalmente (radical = que vem da raiz) melhor, é o CUIDADO. Esse é o novo paradigma. Nesta palestra imperdível do TEDxAmazônia, Bernardo Toro fala sobre esse novo paradigma: “O cuidado, hoje, não é uma opção. Ou aprendemos a cuidar ou vamos todos perecer”. E quando o cuidado é ainda mais importante que a colaboração, algumas das iniciativas que poderiam ficar de fora do selo da “economia colaborativa”, ganham relevância. Então, além dos ícones clássicos da economia colaborativa, a Wikinomia fala não só de modelos, mas também de valores, podendo também incluir iniciativas que não rompam com modelos antigos, mas que repensam a si mesmas neste novo paradigma. Parece improvável, mas já há casos inspiradores nesse sentido, como a CVS, rede de farmácias americana que parou de vender cigarros “porque era a coisa a certa a ser feita”. Ou a Mercur, empresa brasileira produtora de borrachas, que descontinuou a venda da sua rentável linha Disney quando soube que era um dos principais motivos de bullying nas escolas. Isso não significa que o McDonalds teria que descontinuar a venda de sanduíches para ser cuidadoso. Como diz Satish Kumar, fundador da Schumacher College, “everything has a place in its place” (tudo tem um lugar, no seu lugar). Ou seja: todos (ou quase todos) os produtos e serviços têm um espaço possível na nossa vida. A falta de cuidado não está em vender algo que não é necessariamente saudável, mas em querer induzir o consumo em uma quantidade muito acima do razoável. Quando finalmente nos damos conta que cuidar do outro é cuidar da gente — e do todo —, passamos a agir no trabalho com os mesmos valores que agimos em casa e descobrimos que, ainda assim, é possível ser sustentável financeiramente. Ou melhor, descobrimos que por conta disso é possível ser sustentável no longo prazo. Insistimos muito nesse ponto, pois temos a clareza de que, para termos a velocidade e a escala que precisamos nessa mudança, é essencial envolver todas as esferas sociais: cidadãos, empresas, academia e governos. Esta talvez seja a mudança mais radical dessa revolução: ela não tem inimigos. Você pode escolher…

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A experiência do sócio-benfeitor

O que é a Benfeitoria? Uma empresa? Um negócio social? Um coletivo? Um movimento? Uma ideia? Somos sim tudo isso. E muito mais. Eu gosto de pensar na Benfeitoria como um espaço de experimentação, onde estamos sempre buscando novos modelos, novas ferramentas e novos tipos de interação que nos permitam criar em cima daquilo que a gente acredita. Neste sentido, a gente vem experimentando sem parar desde o início. Em 2011, criamos a primeira plataforma gratuita de financiamento coletivo do mundo. Em 2013, colocamos governo, empresas, academia e sociedade civil para trabalhar juntos em um novo modelo de inovação para a cidade. Em 2014, juntamos uma galera para discutir o futuro da nossa economia e das relações humanas e institucionais num modelo totalmente diferente de festival. Também em 2014, nos dedicamos a repensar o financiamento coletivo e imaginar interações mais longas e mais profundas. Afinal, algumas iniciativas não querem financiar um projeto pontual, com início-meio-e-fim, mas precisam de apoio para manter o próprio núcleo do trabalho, pensando, então, em uma sustentabilidade a longo prazo. Para esses casos, nasceu o Recorrente, um novo modelo de financiamento contínuo, onde pessoas comuns apoiam financeiramente as iniciativas que acreditam. Aqui não se trata de uma decolagem rápida, e sim de um looongo vôo. Em 2015, no aniversário de quatro anos da Benfeitoria, nos jogamos de cabeça em um experimento ainda mais ousado, mas igualmente lindo. Começamos a financiar a própria Benfeitoria dentro do Recorrente, em uma campanha que batizamos de Sócio-Benfeitor, onde convidamos as pessoas que acreditam no nosso trabalho a serem parte do que estamos construindo. E quando eu digo “ser parte”, é muito mais do que dar uma grana mensal e receber um e-mail de novidades uma vez por mês. Queremos que essas pessoas sejam parte do nosso núcleo pensante. A gente acredita que um grupo é sempre mais inteligente que o mais inteligente do grupo, então essas pessoas chegam exatamente para criar com a gente o futuro do que vai ser a Benfeitoria! Não foi fácil. Mesmo em uma empresa pequena e que fala de colaboração e inovação, é bem mais fácil concentrar decisões e ter controle sobre os processos. Perder o controle não é uma tarefa trivial, que se faz de um dia para o outro. Mas com certeza vale a pena. O dinheiro está sendo importante, claro. Mas os aprendizados desta experiência fizeram o nosso pequeno grupo virar um vulcão de ideias em plena erupção! Estamos conhecendo melhor sobre o nosso próprio trabalho, sobre a nossa comunicação, sobre as nossas ferramentas… Os sócios-benfeitores são protagonistas da nossa história. E a responsabilidade pelo rumo deste barco está nas mãos de centenas de pessoas agora. Outro dia me perguntaram: “Mas como fazer essas pessoas serem protagonistas? Como fazer elas sentirem que estão sendo ouvidas?” A resposta não poderia ser mais simples: Ouça-as. Ponto final. Se você vai se propor a ouvir, faça isso de verdade. Se dedique a isso, desmanche todas as verdades que você tem na cabeça e esteja disposto a repensar tudo que você sabe sobre o seu próprio negócio. As pessoas não são idiotas. Elas sabem quando você está realmente escutando. E quando você abre a porta e escuta de verdade, elas te ensinam muito, às vezes mesmo sem querer! Com a gente tem sido assim. Um experimento complexo, até meio maluco, mas que nos deu um novo gás e faz a Benfeitoria se transformar todos os dias. E você? Vem mirabolar com a gente? É só clicar aqui.

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Olá, mundo!

A Benfeitoria volta a ter um blog! Queremos manter isso aqui atualizado com novidades, planos, sonhos e pensamentos sobre o mundo. Não tem muita regra. O blog é para falar de tudo que está envolvido na Benfeitoria, desde apresentar projetos de financiamento coletivo, até discutir novos modelos de negócio. Como tudo aqui é colaborativo, queremos convidar parceiros e amigos para usar esse espaço também. Sem mais delongas, seja bem-vindo ao nosso novo blog!

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