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A verdade é que já passou da hora.

Acabamos de anunciar uma vaga exclusiva para pessoas que se identificam como negras. Não é nossa primeira busca intencional, mas é a primeira de um processo interno estruturado, necessário para atuar em cima de uma questão tão estrutural. 

Nossos próximos anúncios de vaga – para todas áreas da Benfeitoria – seguirão o mesmo critério, até que pelo menos 50% da equipe seja formada por pessoas negras. Hoje são apenas 30%. 

Nas busca por diversidade e inclusão, para a questão racial (nosso foco inicial), optamos pela meta de proporcionalidade. Fizemos esse post para compartilhar um pouco do que está por trás – e pela frente – desta decisão.

Nosso intuito aqui é incentivar outras organizações a refletirem e agirem sobre a ideia de proporcionalidade. E, principalmente, abrir um canal de escuta para críticas e sugestões sobre como podemos evoluir nessa direção.

Não somos referência no assunto. Estamos aprendendo e nos inspirando com várias delas (ainda vamos falar mais sobre isso) e acreditamos que, em um mundo organizado em bolhas, cada um deve fazer sua parte para contagiar positivamente a sua – e, quem sabe, desencadear um movimento que estoure várias outras. 

De onde falamos:

A Benfeitoria foi gestada em 2010 e fundada em 2011 por um casal branco, que largou a carreira de marketing em uma multinacional com o intuito de usar o poder da tecnologia e da comunicação para estimular, no Brasil, uma cultura mais humana, criativa e colaborativa. 

Desde então, o time cresceu e hoje somos 23 pessoas. Todas cocriadoras deste sonho, que começou a se manifestar com uma plataforma de financiamento coletivo, mas que já foi (e ainda vai!) muito além disso (papo para outro post). 

A verdade é que sempre nos enxergamos como um laboratório criativo e somos movidos pelo desejo e a crença de que podemos fomentar mudanças significativas no mundo. Essa é a verdade sexy. 

A nada sexy e muito séria é que sempre fomos também uma família, que chama amigos, que indica conhecidos e, assim, crescemos como time, por muitos anos, majoritariamente composto de gente incrível, mirabolante, apaixonada  – e muito privilegiada. A maioria branca, da zona sul do Rio de Janeiro, formada em boas faculdades, fluente em inglês. E isso, além de limitar nosso olhar e atuação como negócio, é absolutamente incoerente com nossa missão e nossos valores.  No anseio de mudar o mundo lá fora, falhamos em olhar para dentro –  o que impactou e restringiu nossa atuação para fora também. 

Onde estamos:

Demoramos (muuuuito) a nos dar conta disso. Mas a ficha caiu. Ou melhor, está caindo. Um dos nossos principais aprendizados de jornada é que, por se tratar de questões estruturais, reconhecer privilégios e buscar mudar crenças e padrões que os perpetuam é um processo denso, profundo, incômodo – e, sobretudo, contínuo. Não é uma chave que vira e PLIM! 

Hoje, entendemos que precisamos nos colocar – intencionalmente – em processo constante de (des)aprendizagem (e escuta) para poder, de forma prática, somar às lutas por equidade travadas por tantas outras pessoas e organizações, há séculos.  Lutas que vão muito além da questão racial. Mas que, no Brasil, muitas vezes deveriam passar por ela, através de olhares e ações interseccionais, dado que mais da metade da população é negra – e, ainda assim, resiste a graves estatísticas.

No final de 2020, provocados e inspirados por várias trocas com os projetos e parceiros, decidimos criar o GT de Diversidade e Inclusão da Benfeitoria para (finalmente) estruturar e formalizar nossos pensamentos e ações intencionais pela busca de um time mais diverso, inclusivo – e, em consequência, também mais potente.

O caminho é longo e ainda iremos aprender muuuito no percurso. Mas precisamos começar. O assunto é, muitas vezes também, polêmico. Mas não podemos nos paralisar. Sobretudo com o fortalecimento de discursos de ódio, da cultura do cancelamento e outras formas opressoras e silenciadoras de relacionamento que regem nossa sociedade – que, apesar das estatísticas, ainda é considerada não racista por muitos.

Quebrar com a “ficção segunda a qual partimos todas de uma posição comum de acesso à fala e à escuta” – usando as palavras de Djamila Ribeiro, no seu livro “O que é Lugar de Fala?” – é um desafio gigante em uma sociedade na qual pessoas brancas (quase 43% da população) crescem sem consciência de raça . Afinal, como a autora e ativista finaliza o livro: “Só fala na voz de ninguém quem nunca teve que reivindicar sua humanidade”.

Para onde vamos

Nossa política de diversidade e inclusão está sendo desenvolvida pensando para dentro e para fora, com estratégias, planos (e metas!) específicas para os pilares de contratação, inclusão, conscientização e fomento:

  • Contratação: garantir diversidade no time (em todos níveis e áreas), começando pela questão racial. 
  • Inclusão: garantir que todos se sintam acolhidos, ouvidos e com espaço de crescimento pessoal e profissional.
  • Conscientização: provocar conversas e sensibilizar olhares, dentro e fora. 
  • Fomento: buscar ativamente parcerias de fomento via Matchfunding ou outros formatos de apoio a projetos de temas relacionados. 

Em breve, compartilharemos mais por aqui – tanto do que produzirmos, como (e principalmente) várias das referências que nos inspiraram até agora. 

Todo nosso respeito e admiração às pessoas que, como diz Patricia Hill Collins, fazem uso criativo de um doloroso lugar de marginalidade que ocupam na sociedade para desenvolver pensamentos, teorias, conceitos e projetos que, ao refletir seus olhares e perspectivas, desconstroem as nossas — e tornam o mundo estruturalmente melhor. 

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Se interessa pelo tema e quer colaborar com alguma ideia, crítica ou sugestão? Basta mandar um e-mail para a nossa equipe através do contato@benfeitoria.com, que vamos amar trocar sobre.