Projeto dos Sonhos | Museu da Vila da Barca
Aqui na Benfeitoria, a gente acredita que um projeto dos sonhos pode transformar a realidade não só vidas individuais, mas também de comunidades inteiras.
Em celebração ao Dia Nacional do Museu, apresentamos o Museu da Vila da Barca: um sonho coletivo nascido nas águas da Baía do Guajará, coração da Amazônia. Neste projeto, os moradores da Vila da Barca se tornam autores e guardiões de sua própria história.
Conheça o projeto

Localizada no Belém do Pará, no coração da Amazônia, a Vila da Barca é uma comunidade que, em meio aos desafios que a pandemia, encontrou força na memória coletiva. Nesse momento, surgiu a ideia de construir um espaço que fortalecesse e guardasse a memória de seu povo.
A partir das perdas de moradores que iniciaram os principais movimentos locais, surgiu (e urgiu) a necessidade de criar um museu aonde os próprios moradores pudessem contar sua história.
Para além de um lugar onde a memória viva, o Museu da Vila da Barca é um símbolo de esperança, orgulho e futuro para sua comunidade. Além de um espaço que registre a memória de seu povo, o museu será uma casa sustentável construída com a força de trabalho local que abrigará diversos espaços que fomentam capacitação, trabalho e turismo.
Inspirada nas palafitas da região, o projeto conta com:
- Museu e galeria de arte, onde a própria Vila da Barca celebra sua história, memória e cultura
- Cozinha industrial, que qualificará profissionalmente mães solo da região
- Hospedaria coletiva, que visa incentivar o turismo local
- Espaços para oficinas e palestras, que tem como objetivo desenvolver e empoderar a comunidade, além de promover visitas guiadas à Ilha das Onças
- Café-pier, onde será possível socializar e apreciar a Baía do Guajará.
Museologia social como meio de transformar sonho em realidade para a comunidade
A museologia social se baseia no coletivo. O museu deve funcionar como uma ferramenta de uso comunitário e participativo, fazendo dessa comunidade protagonista e escritora de sua própria história.
De acordo com o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), “Que sejam tomadas coletivamente as decisões sobre que memórias são relevantes para serem preservadas, de forma que cada comunidade possa controlar a narrativa sobre si mesma – fortalecendo sua identidade ao estabelecer as conexões críticas entre passado, presente e futuro desejados.
(…) Ainda mais importante é a apropriação das tecnologias museológicas como instrumentos de autorrepresentação, como uma ferramenta política, para que a construção das imagens sobre um dado povo ou comunidade não se limite a reproduzir olhares externos (muitas vezes preconceituosos), mas que, ao contrário, venham de dentro para fora.”
Entrevista dos sonhos
A partir do conceito de museologia social, o Museu da Vila da Barca é um projeto que fortalece a identidade, a cultura, a arte e a autonomia de sua comunidade.
Nós entrevistamos Kelvyn Gomes, idealizador e coordenador do Museu e um dos idealizadores d’A Barca. Confira abaixo:
BENFEITORIA: O que inspirou vocês a sonhar com o Museu da Barca? E qual a ligação pessoal de vocês com a Vila da Barca?
KELVYN GOMES: Eu sou morador da Vila desde que nasci, isso faz 30 anos. Mas a ideia de um museu nasce durante a pandemia de Covid-19. Com as perdas humanas, nós percebemos também que muitos dos moradores que participaram lá dos principais movimentos da comunidade também estavam envelhecendo e partindo. Somado a isso, as minhas primeiras pesquisas como historiador sobre a comunidade, nos permitiu identificar que durante as décadas de 80 e 90 principalmente, os jornais de Belém haviam construído uma imagem muito negativa sobre a comunidade. Foi então que, a partir de um edital da Lei Aldir Blanc, surgiu a ideia de formatar um Museu Memorial que registrasse, reunisse, organizasse, salvaguardasse e ajudasse a recontar essa história, mas a partir do ponto de vista dos moradores. Uma história não sobre ausências e carências, sobre problemas, mas sobre potencialidades, cultura, política etc.

Como a comunidade tem reagido à ideia do Museu? O que torna esse projeto tão único para quem vive ali?
As discussões têm possibilitado com que a identidade dos moradores com a comunidade seja reconstruída, que eles se orgulham de fazer parte dessa história, que a Vila não é só problema ou violência, mas ao contrário, tem muitas coisas positivas. E como nós temos um acervo, que hoje é apenas digital, e vira e mexe a gente usa muitas dessas imagens, é interessante ver como as pessoas reagem ao se verem, se identificarem, se reconhecerem como parte dessa história. E além do Museu, nós desenvolvemos outros projetos na comunidade que fazem com que angariemos apoio porque temos demonstrado como podemos, mesmo em meio aos desafios, mudar a nossa realidade.
De que forma a arquitetura amazônida reflete os valores e o modo de vida que vocês querem preservar?
A arquitetura da Amazônia é um exemplo de como podemos conviver em harmonia com a natureza. As formas da natureza são reproduzidas, as cores, a adaptação climática, por exemplo, perpassa por isso. Então, pensar soluções para problemas do presente, a partir de iniciativas ancestrais tem nos ajudado a moldar e a preservar o que temos de melhor.
No Dia Nacional do Museu, o que vocês diriam sobre o papel dos museus na proteção e no movimento da cultura popular?
As novas ideias de museus tem sido essenciais nesse sentido. Não mais patrimonialistas, conservacionistas, mas pensados a partir da interação com os seus grupos sociais, museus já não mais guardam apenas ouro, prata, grandes monumentos, mas as histórias e memórias de populações é grupos étnicos, mas agora não apenas pelo fetiche ou exoticidade, mas sobretudo pelas outras narrativas possíveis, com prioridade para os locais. Essa diversificação permite que as pessoas se enxerguem nesses espaços e valorizem, identifiquem a sua cultura como “cultura” e ajudem na preservação e transformação dela.

Que mensagem vocês deixariam para quem sonha em transformar o próprio território a partir das suas raízes?
Que é possível! Não é fácil, mas é possível. É um trabalho de formiguinha. Você começa sozinho e vai “contaminando” os outros. Mostrando de maneira clara, objetiva, coloquial, a importância de cada um deles nesse processo. Com o tempo, o grupo começa a atuar em diferentes frentes atendendo as demandas da comunidade.
E agora, como as pessoas podem ajudar esse sonho a sair do papel e virar realidade?
Doando, compartilhando, vindo conhecer a gente, pra saber o que fazemos, como fazemos, porque fazemos. E nesse espaço a gente não vai apenas ter o Museu, né? Teremos galeria, espaços formativos, biblioteca, hospedagem, café. Tudo que traga as pessoas para a comunidade e nos ajude a reconstruir o imaginário sobre o nosso lugar
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