(re) construção

No último mês de julho, ganhamos uma viagem incrível! Foram 6 dias em acomodações especiais, com direito a comida local, experiências divertidas, emocionantes e desafiadoras. Conhecemos um pouco da cultura da região, fizemos amigos, deixamos um pedaço de nós e trouxemos um tanto deles também. Daquelas experiências que mudam a vida, sabe? Então. Mas para viver tudo isso, precisamos deixar de lado também uma espécie de óculos especial que ganhamos muito cedo em nossas vidas. Um óculos, que nos foi dado ainda na infância, que faz com que a gente simplesmente não veja certas coisas. Algumas outras ficam mais coloridas e destacadas, gerando uma certa distorção na nossa percepção.. É como se esses óculos do privilégio editasse a nossa visão, criando uma proteção meio doida, privilegiando algumas coisas em detrimento a outras. Mas a nossa agência de viagem, o Teto Brasil, faz um trabalho lindo para a retirada desses óculos, com direito a rituais de celebração e tudo. Nosso destino? Parque das Missões (PQM), em Caxias, na baixada fluminense, pertinho da gente, a mais ou menos uma horinha do centro do Rio. Algumas pessoas, que ainda estão muito apegadas a esses óculos, só conseguem ver alguns tristes dados associados a PQM. Como por exemplo, o crescente número de casas feitas de sobras de madeira, o esgoto irregular e o lixo que são jogados no Rio Meriti que beira a comunidade, o irregular e insatisfatório fornecimento de água potável e pouca oferta de escolas… Mas, sem nossos costumeiros óculos pudemos ver muito mais! A gente viu muitas pipas voando, partidas disputadíssimas de futebol, gente dançando na rua, comida simples e saborosa (e que saudade do sacolé da Regina!), histórias incríveis, sorrisos e abraços sinceros e muitas lágrimas de gratidão. Durante a nossa viagem ficamos hospedados em uma espécie de palácio. Alguns chamam de creche local, talvez pela decoração com pinturas de crianças, carteiras empilhadas, abrindo espaço para as nossas luxuosas camas: sacos de dormir, colchonetes, colchões de ar. Nós, turistas, éramos responsáveis também, pelas nossas dependências – limpar, arrumar, lavar… – coordenados pela Intendência, a equipe cheia de amor e carinho que cuidava de todos nós. Nosso tempo era preenchido com diversas atividades! Voltamos ao tempo de criança, literalmente! Brincamos de construir casinhas. Mas como somos já crescidos, fizemos casas grandes, né? Carregamos, martelamos, rolamos na terra, suamos, fizemos piadas e gargalhamos por 6 dias inteiros. Chegando no nosso palácio, mais atividades: dessa vez conduzidas pelas CEs (chefes de escola) que até nos pregaram peça, fazendo a gente pensar um tanto sobre tudo que estávamos vivendo ali, desconstruindo pedaço por pedaço dos nossos antigos óculos. Com essas atividades imergimos na riquíssima cultura local, uma cultura de colaboração, pertencimento e música. Talvez tenhamos voltado mais malemolentes no quadril depois de tanto funk. 😉 Em algum momento, na nossa arrogância, chegamos a acreditar que essa viagem era apenas para ajudar algumas pessoas que precisavam. Mas voltamos com a certeza de que foi muito mais do que isso. Desmontar nossos óculos foi uma maneira de reajustar nossa visão sobre o mundo que nos cerca. As lágrimas que caíram no processo foram os olhos se acostumando com a ausência dos óculos, usados por tanto tempo. Mas, de uma forma geral voltar de viagem trouxe uma sensação de leveza e saudade. Temos muitos amigos com óculos parecidos. E sabemos que não é por mal. Vai que um dia desses eles pilham de fazer uma viagem tipo a nossa e têm a sorte de tirá-los, também? Vai saber. by Luka e Murillo No mês de julho participei de uma experiência única: o TDI – Trabalhos de Inverno, da Teto Brasil. Foram 6 dias construindo casas de emergência em conjunto com moradores e outros voluntários no Canal do Anil, zona oeste do Rio de Janeiro. Tirei alguns dias de férias do trabalho, achando que iria dedicar um pouquinho do meu tempo para ajudar algumas famílias que precisam de uma casa para morar. Mas a verdade, é que foi mais do que isso. Nesses dias conheci pessoas maravilhosas, com as quais eu tive a oportunidade de trocar experiências e valores de uma forma tão leve e carinhosa. Trouxe, comigo, um pouco da garra e amor daqueles moradores, da simplicidade das crianças que brincavam despretensiosamente na rua e do brilho no olho dos voluntários cada vez que um piloti entrava no nível. Deixei um pedacinho de mim no Anil. Essa construção permitiu que eu começasse a enxergar uma nova realidade. Permitiu que eu me enxergasse de uma nova forma, também. Depois dessa semana, minhas esperanças em uma comunidade colaborativa e mais unida, foram renovadas. Com certeza, minha fé na mudança ficou mais forte. Sou muito grata por essa experiência apaixonante e transformadora. Muito, muito obrigada! by Yasmim Figueiredo Esses dois textos são resultados da parceria entre o Teto e a Benfeitoria, que juntos proporcionaram a experiência de participar do TDI – Trabalhos de Inverno para três Sócios Benfeitores: Yasmin, Murillo e Luka, autores desses relatos. Os três sócios benfeitores ficaram seis dias em comunidades do estado do Rio de Janeiro participando da construção de casas de emergência junto com outros voluntários e moradores dessas comunidades. Para ver as fotos da construção de Parque das Missões, acesse o álbum completo aqui e para ver as fotos da construção do Canal do Anil, acesse o álbum completo aqui. Para saber destas e outras atividades realizadas pelo Teto Brasil você pode acessar o site aqui e para se voluntariar você pode se cadastrar aqui. O programa Sócio Benfeitor é a campanha da Benfeitoria que reúne pessoas que desejam estar mais próximos do nosso trabalho, para conhecer mais acesse o link da campanha aqui.

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Vida como ela é – a lógica do status quo

A lógica do status quo é realmente poderosa. Ainda me surpreendo com ela quando rompo a minha própria e tiro um tempo para refletir sobre certos comos e porquês.  Somos moldados desde quando fazemos parte apenas de um imaginário a sermos do jeito que devemos ser, a agirmos da forma como julgam adequado, a sonharmos com metas pré-determinadas e a aceitarmos “a vida como ela é”. Pois bem. A vida-como-ela-é é assim… nascemos, crescemos, frequentamos o colégio, buscamos a glória do diploma da faculdade e depois a estabilidade de um trabalho adequado que carregue em suas 8 horas diárias a permissão para mantermos uma família idealizada com hábitos de consumo bastante questionáveis. Tudo bem, tudo bem… nem todo mundo é assim, é claro. Mas a tal lógica do status quo, fantasiada de um cliché sufocante mascarado nas cobranças daquela tia avó na festa de Natal que não consegue entender o-que-você-com-25-anos-está-fazendo-que-ainda-não-tem-uma-noiva-e-não-está-empregado-numa-grande-corporação, acaba colocando um pesinho nas asas até dos mais sonhadores. (Aliás, pare e reflita: a tal lógica é tão, mas tão poderosa, que até mesmo a vida-como-ela-é que aqui questiono é um privilégio, um privilégio de pouquíssimos). Enfim. A vida-como-ela-é pode não ser muito prazerosa, e em grande parte das vezes, é bastante cansativa. Mas é assim… fazer o quê? Faz parte: essa lógica nos impõe trocas. Se você quer ser feliz, precisa consumir. Se quer consumir, precisa trabalhar. E se precisa trabalhar, bem… não dá para exigir prazer do nosso campo profissional, não é mesmo? Por isso, somos moldados a acreditar que certos sacrifícios são, além de aceitáveis, justificáveis. E a vida-como-ela-é continua assim sendo, até não ser mais. Pois bem. Não aguentei deixá-la ser até deixar de ser. A minha vida só foi como-ela-é por duas décadas. No auge dos meus 20 anos, percebi que meus sacrifícios não eram justificáveis. Que não havia nada de aceitável em uma rotina diária de cinco horas numa faculdade que pouco me inspirava, seis num trabalho que eu detestava e mais três num trânsito que só não era mais detestável porque parecia, de certa forma, uma metáfora da minha própria vida: parada ou perseguindo trajetórias pré-determinadas. Olha, você não precisa acreditar em Deus, mas tendo a dizer ser impossível escapar da crença numa força incrível que rege o universo e que nos coloca exatamente onde precisaríamos estar. Foi essa força que me colocou diante de um post no Facebook, no dia 16 de junho de 2015, que, no auge dos meus 20 anos, no auge dos meus sacrifícios questionáveis, me apresentaria uma lógica que deixava o status quo – da vida e do mundo – no chinelo. Equipe de projetos da Benfeitoria CONTRATA! Completei, neste mês, um ano imersa em vida nova. Um ano de vida-como-eu-quero-que-seja. Um ano de empoderamento: o meu caminho de trabalho, de prazer, de sonho, de consumo e de ação é benfeitor. Tendo a acreditar que a Benfeitoria não é só uma empresa que disponibiliza e inova, como negócio, uma dinâmica inegavelmente poderosa: o financiamento coletivo. Muito mais do que isso, a Benfeitoria é como time e corpo orgânico uma dinâmica própria tão poderosa quanto. Somos e tentamos ser a mudança que queremos ver no mundo, a vivência em si da cultura que queremos fomentar: do carinho, do cuidado, da colaboração. Encontrei no meu ano benfeitor, não colegas de trabalho, mas amigos e companheiros de caminhada. Encontrei no meu ano benfeitor não só a oportunidade de dar consultoria para a arrecadação dos projetos deslancharem, mas a minha oportunidade própria de arrecadar felicidade e esperança em forma de histórias lindas e relatos de sonhos realizados. Encontrei no meu ano benfeitor a consolidação do meu sonho de empatia e propósito vividos em tempo integral – e em âmbito profissional – e mandei um beijinho no ombro para todos que me disseram que isso não era possível. Encontrei no meu ano benfeitor inspiração suficiente para dar para todos aqueles que mesmo fora da Benfeitoria querem levar um pouquinho da cultura benfeitora para suas vidas e trabalhos. Hoje, a rotina de cinco horas na faculdade se mantém e se encaminha para o fim, as seis horas no trabalho ainda existem – com muito prazer, e o caminho de volta para casa é em cima da bike. Se o trânsito de antes era metáfora, a bicicleta também o é: sou eu a dona da minha velocidade e do meu caminho. E mais: estou com a vida-como-eu-quero-que-seja em movimento. Vivo há um ano a mudança benfeitora que quero ver. Sai do trânsito você também!

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Benfeitores sem censura

Ah, o poder de uma chamada. Há tempos conhecemos o poder da comunicação. A Benfeitoria começou a partir do sonho de usar esse poder em prol de mudanças significativas. “Reduzir barreiras de engajamento”, “tornar o cuidado e a colaboração algo tão fácil e sexy quanto o hábito de compra”, “inspirar pessoas de bem a virarem benFEITORAS /  benfeitores saindo da intenção para ação”… Só sonho lindo! E hoje, dia 28 de abril de 2016, esse sonho – que evolui coletivamente todos os dias – completa 5 anos de pura realidade. As conquistas são muitas, os aprendizados também. Alguns emocionantes, alguns deliciosos, outros dolorosos… mas todos valiosos. E a maioria, compartilhável. Por isso, em vez de escrever sobre o impacto que geramos juntos e agradecer aos mais de 100mil benfeitores incríveis de jornada (e até alguns não tão incríveis, mas que nos fizeram amadurecer), resolvemos nesse aniversário iniciar uma sequência de posts compartilhando insights e histórias por trás dessa trajetória para que eles possam inspirar e facilitar a jornada de outros empreendedores (de si ou de um projeto). Afinal, nunca houve tanta glamourização do “largar tudo para empreender com propósito” – ou do”hackear a vida”, como muitos de nós gostamos de falar. E isso tem uma lado bom, pois acaba atraindo e realizando mais e mais pessoas maravilhosas, mas tem uma lado perigoso e, às vezes, cruel, por conta de tantos mitos e meias verdades que a gente alimenta sem perceber – e que acabam iludindo muita gente. Sim, vamos falar disso. Brincamos com o “Sem Censura”, porque a ideia é vulnerabilizar mesmo. Então além de “dicas-sucesso”, vamos abordar as dores, delícias, desabafos, dúvidas, desafios (e outras coisas que vc pense com a letra D, rs) desse caminho, passando por questões gerais e pessoais, como os desafios de empreender em casal; de virar mãe/pai no caminho e [tentar] conciliar a jornada; de empreender num país como o Brasil. Além de empreender numa área ainda tão pouco compreendida; de exercitar o desapEGO. de tentar equilibrar competição e colaboração; de falar e lidar com dinheiro em um contexto social; de tentar cuidar de um (ou de si), sem descuidar do todo; de buscar empreender em rede sem ter muita referência de como fazer isso; de falar em um mundo melhor e às vezes duvidar dele; de querer promover um Reboot nos outros e perceber que você ainda precisa de muitos… Muita coisa. Confesso que não tenho ideia de como serão os próximos posts (esse saiu TOTALMENTE diferente do que imaginei ao abrir o computador), nem o engajamento que vão gerar – se é que alguém vai ler. No mínimo, vai ser uma boa terapia para mim e outros integrantes e ex integrantes da Benfeitoria que venham a colaborar aqui. E como é nosso aniversário, não deixa de ser um presente bonito para todos os benfeitores. 🙂 Originalmente pensei em escrever os Top10 aprendizados, fazer artes lindas para cada um, transformá-las em camisetas, depois quem sabe em um mini doc… hehe. Mas como “benFEITO é melhor que perfeito“, nosso atual lema (e de muitos empreendedores!) e tema do próximo post, começamos por esse post-teaser do que vem por aí. Um convite para nos falarmos mais tarde. E por hoje é só. [Não, mentira!! Hoje já lançamos uma nova id visual, o site todo reformulado (sim, e bonitão – que bom que você notou!), aprimoramos o programa sócio benfeitor, fechamos um novo matchfunding para a economia colaborativa e… agora vamos sair para celebrar!  \o/ Ah! E antes que esqueca: peço desculpas aos que vieram achando que iam ver fotos sensuais ou ler tuuuudo que aprendemos nos 5 anos, em 5 min (impossíveeel). Se não desistiram no primeiro parágrafo e chegaram até aqui é porque valeu o uso da chamada apelativa, rs. Se tiverem alguma sugestão de assunto a ser abordado nessa sequência não-definina-nem-muito-bem-planejada-de-posts, por amor escrevam! Beijos e abraços em todos os benfeitores- e até a próxima!

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Comissão livre: “Como a Benfeitoria ganha dinheiro?”

“E como vocês se sustentam?” Essa é sempre a primeira pergunta que ouvimos quando falamos sobre o nosso modelo de negócio. Isso acontece porque, diferente das plataformas de financiamento coletivo mais comuns, a Benfeitoria optou por não cobrar comissão obrigatória dos projetos. E foi a primeira do mundo a fazer isso. Mas como a gente se sustenta então, se a principal (ou a única) fonte de receita das plataformas é exatamente a comissão? Resolvemos arriscar (e apostar) num modelo de comissão livre, que significa que não obrigamos ninguém a pagar, mas convidamos todos a contribuir para a Benfeitoria continuar existindo. Podemos chamar também de colaboração espontânea, contribuição consciente, comissão voluntária, mas tudo quer dizer a mesma coisa: você colabora com o quanto quiser. Esse caminho, em grande parte, se baseia em três premissas. Em primeiro lugar, na premissa de que temos que agir junto com as pessoas (co-missão, como gostamos de dizer). Em segundo lugar, de que a Benfeitoria só faz sentido se as pessoas quiserem que ela exista. E, por fim, na premissa de que, ao estimular o questionamento, as pessoas se tornem mais conscientes quanto à sua colaboração. Por isso, hoje temos basicamente três fontes de receita que vêm diretamente das pessoas que interagem com a plataforma: 1- Comissão livre do realizador. Ao financiar um projeto na Benfeitoria, você opta por contribuir com o nosso trabalho, com o valor que quiser. Além do serviço online, nossos principais diferenciais são o nosso atendimento aos realizadores e nossa metodologia de campanha. Cuidamos de cada projeto de uma forma única, e acreditamos que este é um dos motivos para a nossa taxa de sucesso ser estrondosamente alta: 70% das campanhas são bem sucedidas na Benfeitoria (versus 40% de média do mercado). Acreditamos que os realizadores enxergam esse cuidado e atenção e, por isso, podem contribuir de forma voluntária. E esse é o primeiro pilar do nosso modelo de negócios. 2- Comissão livre = contribuição espontânea do colaborador. Quando uma pessoa contribui com um projeto na plataforma, ela pode contribuir financeiramente também – com quanto quiser – com a Benfeitoria. O sistema é parecido com o primeiro, mas funciona a cada pagamento que é feito no site. Sugerimos alguns valores de referência (inclusive zero) e cada um pode escolher o quanto achar justo. Um dos grandes trabalhos aqui é explicar toda essa proposta de forma muito sucinta. Diferente do nosso relacionamento com o realizador, que dura meses, aqui temos alguns segundos para comunicar tudo que está por trás deste convite. Não é a toa que esse é nosso maior quintal de experimentações. Fazemos muitos testes para saber o que funciona e o que não funciona. Hoje, quase 50% dos colaboradores contribui com algum valor para a gente, um número que nos enche de orgulho! 3- Sócios-Benfeitores. Por fim, temos um programa de relacionamento a longo prazo, que chamamos de Sócio-Benfeitor, um experimento que já explicamos aqui no blog. São pessoas que toparam apoiar a Benfeitoria com um valor mensal, em um esquema de financiamento recorrente. Atualmente, são mais ou menos 130 pessoas que contribuem com valores entre R$15 e R$200 por mês. Os Sócios-Benfeitores formam uma comunidade que participa de decisões da Benfeitoria, cria pontes e troca referências com a gente. Muito mais do que um apoio financeiro, eles são nossa rede de suporte. Mas não para por aí. Nosso modelo de negócios vai além disso. Desde o primeiro dia de vida da Benfeitoria dizemos que a transição para uma nova economia – mais humana, criativa e colaborativa – só é possível se unirmos todas as esferas sociais. Por isso, estamos sempre convocando empresas, instituições acadêmicas e o governo para pensar projetos em conjunto. Em 2013 e 2014 fizemos o Rio+ e o Reboot. E, a partir de 2015, inauguramos o Matchfunding, uma modalidade de financiamento coletivo na qual um parceiro institucional faz um investimento significativo em projetos selecionados, fomentando um tema específico. E, assim, nasceram os canais Natura Cidades, Primeiro Passo, Sebrae RJ, Yousers e Colorado. Por tudo isso, é muito importante enfatizar que comissão livre não é o mesmo que serviço gratuito. Precisamos dessas contribuições das pessoas para continuar fazendo o nosso trabalho, e muito felizmente esse número se torna cada vez mais significativo. Queremos construir um significado coletivo para o nosso modelo de negócio. Queremos que as pessoas reflitam sobre o valor do seu dinheiro, e sobre como e onde o investem. A Benfeitoria é, em sua essência, construída pelas pessoas que fazem parte dela, seja construindo um relacionamento de longo prazo, seja interagindo pontualmente com a plataforma. Ela só se banca se fizer sentido para quem interage com ela. E por ser essa construção coletiva, esse é o modelo de negócios que encontramos para ela. Como diz a Amanda Palmer na sua palestra no TED, às vezes estamos acostumados a fazer a pergunta errada. Em vez de “como fazemos as pessoas pagarem por isso?”, poderíamos nos perguntar “como deixamos que as pessoas paguem por isso?”. Essa pequena mudança transforma tudo.

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Em busca de sonhos pela metrópole

Este artigo foi escrito por Guilherme Karakida, caçador de impacto da Benfeitoria, a pedido da nossa equipe. Em junho de 2015, entrei para a rede de caçadores de impacto na Benfeitoria. A minha história com a plataforma de financiamento coletivo, porém, começou em novembro de 2014, quando financiei uma casa de emergência no valor de R$5.500 para o TETO. A Benfeitoria se destaca das outras plataformas por não aderir a uma lógica produtivista que se importa mais com quantidade do que com qualidade. Na plataforma, todo projeto precisa ter impacto coletivo e ser de interesse público, independente da área. A lógica é tudo ou nada. Isso significa que as metas devem ser atingidas para o realizador receber o dinheiro. Caso contrário, o dinheiro é estornado para todos os benfeitores – apoiadores do projeto. Outra característica que me atraiu – também quando a escolhi para arrecadar fundos para a casa de emergência – é ser uma plataforma de financiamento que não cobra comissão. Paga quem quiser e se quiser. A única taxa obrigatória é da Moip, integradora financeira responsável por todas as transações financeiras da Benfeitoria. Esse posicionamento da organização revela que o lucro não está acima do interesse de transformar a realidade. No início do ano, a Benfeitoria fez uma chamada para o programa de Caçadores de Impacto: uma rede de pessoas interessadas em todos esses assuntos que teriam a missão de buscar projetos interessantes e formatá-los para o financiamento coletivo. Ser caçador de impacto era uma oportunidade ao meu alcance de tirar projetos incríveis do papel por meio de um crowdfunding. Ao mesmo tempo, teria acesso a uma rede com a mesma motivação de popularizar o financiamento coletivo e com vontade de melhorar o mundo. Entrei com o propósito pessoal de encontrar iniciativas com potencial na metrópole, local que a Benfeitoria apresenta menos entrada e cujos indicadores sociais são mais baixos. Por trabalhar na Casa Fluminense, espaço de diagnóstico e proposta de políticas públicas para a metrópole do Rio, acumulei rede em territórios diversos, o que facilitaria o trabalho de mapeamento e interlocução. Descrever a experiência – curta, aliás – como caçador de impacto sem mencionar o Gomeia Galpão Criativo seria um erro. O primeiro espaço de coworking da Baixada Fluminense reunia pessoas que já faziam a diferença na Baixada Fluminense, região estigmatizada pela violência e pobreza. Esses atores trabalhavam em rede espontaneamente e estabeleciam parcerias no seu cotidiano. A ideia de trazer todo mundo para o mesmo telhado só oficializava uma dinâmica que acontecia naturalmente. Ao optarem por compartilhar o espaço, os custos diminuíam, a potência e as conexões se maximizavam e, por consequência, o impacto coletivo se ampliava. Faltava, no entanto, dinheiro para tornar possível essa vontade coletiva. Assim, no dia 1 de julho de 2015, entrei pela primeira vez no Gomeia e apresentei a Benfeitoria. Eles gostaram da proposta e avaliaram que havia alinhamento entre as duas organizações. Decidiram lançar o crowdfunding na mesma semana no valor de R$29.000,00 para uma pequena reforma no espaço. A meta, diga-se de passagem, era ousada porque a Baixada Fluminense não tem cultura enraizada de colaborações financeiras, o que tornava o desafio ainda maior. A campanha foi um sucesso. Teve feijoada, apoio massivo de organizações da sociedade civil e pessoas reconhecidas dos mais diversos setores que gravavam vídeos reforçando a importância da iniciativa. Para mim, a trajetória produziu aprendizados. O mais importante talvez seja que quando protagonistas do mesmo território se reúnem, com brilho no olho e mesmo objetivo, a probabilidade da mobilização ser bem-sucedida se multiplica. Aos poucos, esses protagonistas locais ressignificam a Baixada Fluminense como polo cultural criativo. A saga como caçador de impacto metropolitano continua. Mais projetos aparecerão ao longo do caminho e, com isso, novos aprendizados. Para a Benfeitoria, assim como para uma parte significativa das organizações, criar uma comunidade ativa e contínua segue como um dos principais desafios. Só sei que me sinto afortunado por estar participando de tudo isso e espero que esteja apenas começando.

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Por uma economia que sustenta a vida

Há pouco mais de um mês fui convidada para falar da Benfeitoria no Sustainable Brands Rio, um evento que reúne centenas de empresas interessadas em tornar-se mais sustentáveis, de forma inovadora. O tema do evento era “HOW NOW” (como fazer isso agora!) e minha palestra precisava ser sobre como as marcas poderiam se conectar com as necessidades da sociedade. Como podem ver abaixo, em vez de mergulhar em um ou dois cases da Benfeitoria, optei por falar sobre o que está por de trás de tudo que fazemos – e como esse pensamento poderia ajudar as empresas ali presentes a se tornarem mais sustentáveis, no curto e no longo prazo. As demais palestras do evento também estão disponíveis online gratuitamente para quem quiser assistir, mas queria aproveitar esse espaço para aprofundar (o tal do drillability ao qual me refiro na palestra) sobre a importância de trazermos grandes empresas e instituições tradicionais (inclusive governamentais) para dentro dessa “nova economia” que queremos fomentar. 1) TEMPO E ESCALA: não podemos nos dar ao luxo de esperar uma revolução apenas de baixo para cima. Ela está acontecendo, é poderosa e linda – a gente sabe, vive e fomenta muitas dessas manifestações diariamente -, mas como demonstra brilhantemente Jason Clay, vice-presidente da WWF, em sua palestra no TED “Como grandes marcas podem ajudar a salvar a biodiversidade”, usar o poder de grandes instituições a favor dessas transformações positivas que todos queremos (pelo menos todos que lêem esse blog, rs) é fundamental para trazer velocidade e escala para essa mudança. 2) KNOW-HOW: grandes empresas não chegaram onde chegaram por acaso. Elas desenvolveram um nível de profissionalismo incrível, em toda cadeira produtiva. Eu sei que a lógica predominante nesses organismos ainda é a de escassez (e é aí que acho que temos que trabalhar para mudar!). Mas sei também que uma mentalidade de abundância sem metodologia, muitas vezes gera desperdício (e desgate emocional) num nível ainda mais intenso do que cria abundância. Então acredito profundamente em parcerias que tragam mais profissionalismo para modelos conscientes e consciência para modelos “tradicionais”. Projetos que unem essas duas inteligências, além de gerar impacto pontual ao qual se propõem, acabam inspirando outras iniciativas com o mesmo modelo, como o Matchfunding Natura Cidades, que em breve será replicado para outros temas com outros agentes de fomento (entre eles, o próprio Sustainable Brands, como falado na palestra). 3) COERÊNCIA: se estamos lutando por uma sociedade mais humana e colaborativa, não podemos replicar a lógica excludente, maniqueísta e às vezes arrogante de achar que empresas e instituições tradicionais não podem ou não merecem se associar ao mundo colaborativo. Como diz Charles Eisenstein, nesse vídeo sobre seu documentário Occupy Love, “não é sobre os 99% contra 1%” – frase que inspirou minha palestra no TEDx, em 2012, por sinal. No fundo, empresas são feitas de pessoas. E esses profissionais são, na maioria das vezes, pessoas incríveis (e extremamente competentes!), que também estão insatisfeitas com o mundo e querem fazer algo para mudá-lo. 4) FAZ SENTIDO: com o avanço exponencial da consciência coletiva de que novos modelos de vida em sociedade são necessários, urgentes (e possíveis!), colocar o propósito no coração do negócio (core business) – e não de um projeto pontual e/ou à parte, como os departamentos de responsabilidade social, que muitas vezes legitimam a irresponsabilidade dos demais –, passa a ser um bom negócio, não “apenas” um negócio do bem.  Isso requer uma abordagem profunda (drillability) e disruptiva às novas demandas do mundo e pode ser um caminho legítimo, inteligente e sustentável para grandes empresas manterem sua relevância cultural no longo prazo – tanto entre público externo, como interno, já que o propósito é um dos três pilares da motivação no trabalho. Penso que marcas como Coca-Cola e Itaú, que se tornaram ícones do modelo vigente de capitalismo (com seus méritos e desméritos), têm a oportunidade (e responsabilidade!) de liderar um movimento robusto entre instituições de grande porte para a construção coletiva de um outro modelo: mais justo, sustentável, desejável – e viável. Pode parecer utopia nas minhas palavras, mas tenho acompanhado de perto evoluções significativas desse pensamento dentro da própria Coca-Cola (onde trabalhei por 8 anos) e de várias outras empresas nacionais e internacionais. Em um artigo recente que escreveu para a Folha, Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola no Brasil, afirmou: “não é suficiente financiar boas iniciativas econômicas ou sociais, que somam na periferia, mas não no DNA da empresa”. É disso que estou falando. Precisamos ir no DNA. E reconhecer isso é o primeiro passo. É claro que colocar o propósito verdadeiramente no centro do negócio não é um trabalho fácil nem rápido para uma empresa tradicional. Esse movimento requer intenção, atenção, (colabor)ação – e ousadia. Requer calma e, ao mesmo tempo, urgência. Requer CUIDADO AO AGIR. E é assim que, aos poucos, estamos cocriando esse caminho com vários outros empreendedores e intraempreendedores sociais… Faz sentido para você?

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Será que entendemos errado a Economia Colaborativa?

Este texto é uma tradução de um artigo escrito para o blog Agenda, do Fórum Econômico Mundial. O original (em inglês) está aqui. *** “A economia compartilhada sente falta de uma definição compartilhada”, diz a pesquisadora Rachel Botsman, e eu concordo. Termos como “economia compartilhada”, “nova economia” e “consumo colaborativo” são usados como sinônimos. Mas será que eles têm o mesmo significado? E mais importante: será que que significam a mesma coisa para todo mundo? Muito mais que compartilhamento Para mim, as melhores ferramentas para entender esses conceitos complexos (e confusos) são oferecidas pela própria Botsman, uma especialista no assunto. Ela diz que aquilo que a gente chama de “economia compartilhada” – bicicletas, casas, ferramentas, carros etc – é apenas uma parte do consumo colaborativo, que por sua vez é só um pedaço de um cenário maior. A transformação real é muito mais profunda do que apenas mudar a forma como consumimos. Também inclui a maneira de ensinar e aprender, projetar e produzir, interagir com outras pessoas e até a forma como nos relacionamos com o dinheiro. Não é apenas uma forma mais eficiente de fazer negócios e tirar vantagem de uma oportunidade de mercado, mas um novo paradigma, uma nova forma de enxergar as relações econômicas do nosso tempo. Este quebra-cabeça maior pode ser chamado de economia colaborativa, e é nisso que eu quero focar. Realidades diferentes Aqui no Brasil, a gente vive uma realidade que foi recebeu vários nomes nos últimos anos. Subdesenvolvido, Em Desenvolvimento, Terceiro Mundo… Escolha o seu preferido. Eu prefiro o termo “periférico” porque não estamos em um estágio intermediário do nosso desenvolvimento que vai naturalmente nos levar um patamar “desenvolvido” ao longo do tempo. Nós simplesmente não estamos no centro do debate. Não estamos definindo a pauta. Na verdade, estamos sendo definidos pela pauta mundial. Aqui, como em muitas outras realidades periféricas, a economia colaborativa emergiu em uma forma ligeiramente diferente, mas profundamente transformativa. Eu acredito que isso aconteceu exatamente porque vivenciamos o mundo através de uma perspectiva diferente. Se compararmos com os EUA e a Europa, berços desses – e muitos outros – modelos de negócios, fica óbvio que nós percebemos a crise mundial de uma forma bem distinta. crise e escala Deixe eu fazer uma pequena pausa aqui e dizer: sim, o mundo está em crise. Nós já vimos várias melhoras em diversas áreas, mas ainda estamos muito, muito longe de ser uma sociedade justa, harmoniosa e funcional. Dois bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia, enquanto os 1% mais ricos concentram quase a mesma quantidade de riqueza dos outros 99% da população. Mais de 70% dos trabalhadores estão infelizes em seus trabalhos. Nós consumimos 50% mais recursos do que o ecossistema do nosso planeta é capaz de regenerar. No meu ponto de vista, essa crise é muito mais do que econômica. É sobre nossos valores, nosso estilo de vida. E é agigantada por um problema de escala. Imagine pegar 100 pessoas aleatórias e colocá-las em uma nave espacial indo a lugar nenhum, apenas flutuando no sistema solar com recursos limitados. Não parece muito lógico imaginar que essas pessoas competirão ferozmente pelos recursos ou tentarão estabelecer um sistema de crescimento infinito dentro da nave, certo? Bem… essa é exatamente a nossa situação. Nós vivemos em um pedaço de pedra – com lava derretida dentro! – vagando sem rumo pelo espaço, com um quantidade finita de recursos à nossa disposição. O problema está na escala. A nossa nave é tão grande que é impossível para cada indivíduo perceber (a) a distância entre as suas ações e as suas consequências e (b) a escala entre as suas ações e a soma de todas as ações individuais. Nós estamos nessa crise juntos porque compartilhamos a mesma casa. Já é hora de tratar essa nave e os passageiros um pouco melhor. mais próximos e mais conectados De várias formas, a economia colaborativa traz uma mentalidade de movimento – como brilhantemente explicado pelo australiano Jeremy Heimans, e comentado em outro artigo aqui no blog, no seu trabalho sobre O Novo Poder. Ele afirma que precisamos ser capazes de mobilizar multidões não apenas para consumir, mas para ser parte ativa em assuntos realmente importantes. Para isso, precisamos reduzir a escala das transações, projetos, decisões e financiamento de volta para o nível individual. Interações mais pessoais, comportamentos de compartilhamento e outras novas tendências trazem o objetivo final de tornar as pessoas mais próximas, mais conectadas e engajadas. Trazer a escala de volta para nossas mãos. É por isso que a economia colaborativa não é apenas sobre o compartilhamento de bens, mas sobre a distribuição de valores, ideias, poder e soluções para um futuro mais sustentável. A diferença é que nas nações periféricas nós vivemos esses problemas no nosso dia-a-dia. Não há como mascarar, varrer para debaixo do tapete. Em parte porque temos mecanismos piores para isso, em parte porque já estamos debaixo do tapete vendo o que o mundo varre para cá. Aqui, as ideias colaborativas são inseparáveis das ideias de igualdade social, responsabilidade ambiental e impacto positivo. As start-ups da economia colaborativa são criadas por empreendedores sociais. Elas nascem com um propósito na raiz, não apenas uma boa oportunidade de negócios. Valor Compartilhado e Negócio Social são parte comum do vocabulário desses inovadores. Meios de sobrevivência A ideia de plataformas online ajudando pessoas a se conectarem e compartilharem é um grande avanço. Eu realmente acredito que está melhorando o mundo em que vivemos. É uma revolução para muitos de nós, mas principalmente para aqueles que sempre tiveram acesso a muitos tipos de recursos. Nas favelas, a cultura do compartilhamento está enraizada na vida cotidiana. Quando você não tem muito, o seu maior recurso pode ser a rede de pessoas ao seu redor. Para essas comunidades, colaboração não é uma escolha, mas um meio de sobrevivência. Muitos dos conceitos que estamos discutindo e prototipando estão funcionando há décadas nestes lugares, simplesmente por necessidade. No Brasil, existe uma grande onda de pessoas procurando por propósito e fazendo uma transição para trabalhar na economia colaborativa….

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Lowsumerism: a onda do baixo consumo

Na semana passada, a agência de tendências Box 1824 lançou um vídeo chamado “The Rise of Lowsumerism” – algo como “A escalada do baixo consumo”. Você pode conferir o resultado abaixo. O vídeo traz algumas questões interessantes sobre a evolução da nossa forma de consumo, o papel da propaganda e as diferenças geracionais. Não há dúvidas de que chegou a hora de discutirmos os nossos padrões de vida e a forma como consumimos. O crescimento do movimento por alimentos orgânicos, o fortalecimento do consumo local, o surgimento de plataformas de trocas, a expansão da cultura maker e o surgimento de moedas sociais são sinais disso. O vídeo vem discutir apenas uma peça nesse quebra-cabeça: a responsabilidade crítica do consumidor como indivíduo que faz parte de uma comunidade maior. A ECONOMIA COLABORATIVA Em um certo momento do vídeo, o tema é a “sharing economy” – economia colaborativa, ou mais especificamente o que chamamos de economia compartilhada, mas não vale a pena entrar nos detalhes da terminologia aqui. Há também uma crítica ao modelo: “Embora a economia compartilhada pareça um passo a frente, ela não reduz de fato o nosso desejo de consumir” Vale notar dois pontos importantes. 1- Quando o vídeo fala em “sharing economy“, ele se refere especificamente a modelos de compartilhamento de bens materiais como carros, bicicletas, ferramentas e casas. A economia colaborativa é muito mais do que isso, mas para o objetivo do vídeo, ele foca apenas do consumo colaborativo, não no movimento como um todo. 2- Sim, o vídeo tem razão quando diz que esses modelos “não reduzem de fato nosso desejo de consumir”. Por outro lado, eles reduzem sim o consumo total e, em consequência, a produção de bens e o uso de recursos. Existem diversas críticas possíveis a estes modelos, mas o consumo colaborativo muda sim a forma como consumimos. O objetivo do vídeo porém – e isso fica claro neste segmento – é atacar o desejo do consumo, não o ato de consumir em si. O CRESCIMENTO ECONÔMICO Existe uma questão de fundo, não abordada diretamente no vídeo, que está no centro de todo o problema: o único modelo econômico vigente é o de crescimento infinito. Mas qualquer modelo de crescimento infinito em um ambiente finito – como o nosso planeta – é, por definição, insustentável a longo prazo. A única métrica que usamos atualmente para medir o sucesso de uma nação é o crescimento percentual do seu Produto Interno Bruto (PIB). Mas o PIB “mede tudo, menos o que faz a vida valer a pena“. Não mede prosperidade, felicidade geral, qualidade de vida. Ele mede apenas a quantidade de relações econômicas acontecendo em um país. Quanto mais consumirmos, maior será o PIB, maior será o crescimento. Por isso, a discussão acerca do consumo é tão importante no nosso momento atual. Mas ela não passa apenas pelo comportamento individual dos consumidores. Essa mudança de cultura é fundamental. Mas será que, como sociedade, estamos preparados para as consequências? As economias passariam por um desaquecimento, empregos seriam perdidos, haveria recessão em vários aspectos. Todo o nosso ambiente econômico foi criado para sustentar o consumo em massa e agora depende dele para sobreviver. Temos que consumir menos. Muito menos. Todos têm absoluta responsabilidade. Mas, para isso, temos que também mudar a forma como enxergamos nosso sucesso econômico e estruturamos as nossas relações de trabalho. E esta é uma questão muito mais profunda do que o simples ato de consumir. A LINGUAGEM Boa parte da crítica do vídeo se faz em cima da propaganda e a forma como essa ferramenta influenciou nossa cultura ao longo das últimas décadas. O curioso é perceber que essa crítica se utiliza da mesma linguagem publicitária para comunicar suas ideias. No livro O Ponto de Virada, Malcom Gladwell explica tendências de comportamento como epidemias que se espalham pela população seguindo o mesmo padrão de um vírus. Um dos elementos mais importantes é o que ele chama de Fator de Fixação, que é o poder que uma ideia, mensagem ou atitude tem de causar impacto em quem é “infectado”. Quanto mais alto o Fator de Fixação, mais forte é o “vírus”, ou seja, mais claramente a mensagem é percebida e “gruda” na mente das pessoas. O poder da linguagem publicitária é inegável. Tanto é assim, que a propaganda não só criou vários dos caminhos que nos trouxeram até essa crise de consumo, como nesse vídeo foi usada como mecanismo para sairmos dela. É uma discussão interessante. Einstein dizia que não se pode resolver um problema com o mesmo modelo mental que o criou. Mas será que nesse caso a melhor forma de atacar o poder da publicidade tradicional de gerar um consumismo desenfreado é usando a mesmíssima linguagem, porém com a mensagem oposta? Fica a reflexão.

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