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Me respeita que aqui é Não é Não!

Quando eu conheci a Ju Parucker la atrás e ela me falou do Não é Não, esqueceu de dizer que era como entrar num liquidificador ligado no 3. é verdade que alertou ser muito trabalho – e não mentiu. mas, daquele papo informal abençoado pela deusa Silvia Federici, na reta final de um ano ruim, numa cidade difícil, surgiu a ideia de que tinha um jeito sim de tudo ficar bom 

Eu tinha uma campanha pra tirar do zero, sobre um tema tão espinhoso quanto urgente. numa cidade com pouco ou quase nenhum histórico de financiamento coletivo. com índices de violência que nos lança como um dos piores estados para ser mulher. à distância e sem nenhuma grana, mas com muita, muita vontade de fazer dar certo.

Acabou que o Não é Não virou o meu propósito nos últimos quatro meses – não só por mexer com causas que me são tão caras, mas por me ensinar um monte de coisa nova a todo instante. sagitariana que sou, dispenso marasmo e adoro aprender.

O jeito foi enfrentar tudo aquilo que eu chamava de difícil mas na real era só novo pra mim: planilha de custos? tabela, orçamento? “mas gente eu só sei escrever”, pensava. tô eu aqui agora contabilizando uma centena de brusinhas, que da ideia até o pacote carimbado, foram feitas por mim – eu, que achava que não sabia criar nem vender.

Mas eu não fiz nada disso só…

E nem poderia. do meu lado sempre estiveram as mulheres incríveis que compõe esse coletivo pelos quatro cantos do país, e que só cresce. de calls didáticas a grupos de whats pipocando de msg, a palavra-tema sempre foi a troca. a gente se passa, a gente se pega, briga e chora mas também se ama.

Quando escrevemos um texto a quatro mãos, quando a Luiza Alana invoca o uso preciso de uma palavra, quando a Luiza Luka me liga no meio de um temporal, é de coletivo que estamos falando

“Será se vai flopar?”

Eu me perguntava enquanto minha irmã Elmira Sena tirava grana do próprio bolso pra fazer camisas, a outra vinha com o café, emprestando carro, corre de gráfica, ateliê, sol, quintura e gasolina. confesso que ninguém sabia muito onde isso ia dar, era confuso e novo pra geral. apareceu gata com broche, surgiu a mana com banner, a outra veio de projetor e tava armado o nosso bonde – e ainda que não soubéssemos para onde, a gente sabia que era junto que esse bonde tinha que ir.

Foram 52 dias de campanha, 52 dias de f5 aflita pra ver aquela porcentagem subir. cada contribuição era uma mini festa no meu coração. financiamento coletivo é um looping de expectativa e frustração. mas é também uma porrada atrás da outra de surpresa e emoção. é comum pensar que é sobre dinheiro e arrecadação – é também. Mas é mais sobre uma rede bonita e poderosa em ação.

Encerramos a campanha com 5.246 reais arrecadados.

A primeira meta, que lá no início pareceu ser impossível, logo se tornou fichinha e atingimos a segunda numa estreia brilhantíssima do Piauí serão 3.500 tatuagens distribuídas por nós, no corpo a corpo, discutindo e combatendo o assédio, num carnaval divertido e politizado. me respeita que aqui é Não é Não!

A Camila tem um jeito carinhoso de chamar a gente de “parcêra” e eu amo essa palavra e a forma como ela a repete, insistente. ela, já macaca de trabalho coletivo, entendeu mais cedo do que eu a importância de fazer junto. sabe que só vai ficar bom pra uma quando for primeiro livre e seguro para todas.

E foi assim que a gente uniu mulheres produtoras, benfeitoras e apoiadoras no mood “se tu pular, eu pulo”. com aquele frio na barriga e o medo inevitável de estatelar no chão – mas com a certeza acolhedora de ter alguém, ali do lado, pra não soltar da mão.

obrigada, mermãs!

bonde das maravilhosas: Fátima, Ana, Márcia, Tatiara, Talita, Luana, Jessica, Verônica, Tássia, Josélia, Lais, Teresa, Renata, Glenda, Luri, Aisha, Nandi,
Marcela, Tassia, Camila, Georgia, Carla, Julianna, Amora, Samaria, Dani, Andrea, Ananda, Rosa, Malu, Renata, Idria, Raquel, Karla, Carla, Laís, Mayra, Mayara, Mariana, Lais, Prycilla, Iêda, Maria, Layane, Andrea, Renata, Ceiça